1/24/2010

infinita highway

Cansei das palavras. De escrever, descrever, cansei! Elas não são fiéis a mim, opto agora pelo agir – quase tão irracional quanto me atrever a pensar demais! Sim, hoje eu andei demais. Talvez ter pensado um tiquinho a mais seria mais inteligente, minhas pernas agradeceriam.

Foram só 12 km, em uma caminhada que não tinha por certo o porvir. Um cartão telefônico com duas unidades, um pensamento fixo na cabeça, um olhar decidido que há algum tempo não reconhecia e... E é bem basicamente isso mesmo, foi tudo o que levei comigo!

Algumas palavras ensaiadas? Não, não preciso de ensaio e cena pra dizer o que eu sinto! Mais do que dizer, o gesto em si falaria mais por mim do que eu poderia me render às palavras que já lhes falei não me serem fiéis, não sou mais fã delas também!

Agora... como posso chegar de mãos vazias? Parei em um supermercado e lhe comprei a halls preta, a pastilha que sempre me deu dor de cabeça, mas sei ser a tua preferida e eu queria apenas agradar!

De um orelhão próximo, de frente ao supermercado, liguei muito rápido, tinha poucas unidades, mas ela já estava de saída, só a vi um ou dois minutos depois, no carro saindo de sua rua e seguindo seu caminho.

Não tive chance de falar com ela, mas não me arrependo, talvez não soubesse mesmo o que lhe dizer! ‘Mas como você é burro, Lucas’, alguém poderia me dizer. Poderia, não lhe tiraria a razão. Eu mesmo não estive com ela durante essa jornada.

Sim, eu poderia ter ligado, poderia saber de seu horário, poderia ter pego um ônibus e talvez a encontrado em sua casa com mais tempo. Sim, tudo isso poderia ter acontecido, mas não foi desse modo que a noite se desenrolou.

Na verdade eu poderia ter saído com o carro e chegaria a sua casa em 15 minutos. Sem sentir a distância, a perna fisgar ou o cabelo secar. Não poderia ter pego ônibus pois o dinheiro que tinha dava exatamente para comprar aquela halls preta nível 5 de refrescância.

O carro estava na garagem, com gasolina, documento e permissão para eu pegá-lo. Mas que valor teria eu chegar lá assim? Eu saberia o valor de poder chegar tão rápido e falar o que eu quisesse e vê-la assim tão facilmente?

Às vezes é preciso um desafio e o toque de destino, acaso, ou qualquer referência que se coloque como a variável que foge ao controle de nossas mãos!

Se eu não suar (literalmente!) para poder conquistar o meu espaço, como vou saber o valor do que tenho? Era o meu desejo que ela pudesse ver em meu suor, minhas lágrimas ou meu sangue que as minhas palavras eram sinceras, através de meu ato – tentei inicialmente com o suor, não é? O sangue deixa pra um desespero maior e coisa e tal...

Mais que as palavras, o ato mostraria a verdade de minha intenção: lhe entregar a halls e cantar um trecho da música do seu filme favorito. Não vou negar, no caminho ensaiei falas e frases mal-elaboradas, mas talvez tenha sido mesmo melhor não tê-las dito, talvez os desencontros existam por uma razão, mas sei que, tanto a espera do encontro quanto a frustração do desencontro, foi tudo apenas fruto da minha cabeça, talvez ela nunca descubra, a menos que agora me leia!

No caminho eu pensei o por quê de estar nessa estrada mesmo! Por que eu estou indo até lá? Ela precisa, ela merece, ela deve saber de alguma coisa? Se sim, o que eu devo, preciso, necessito contá-la? Isso vai fazer o dia dela melhor? Se sim, é melhor eu apressar o passo! Se não, por que ir atrás de algo que não lhe fará bem? Talvez seja melhor que ela não saiba o que pensei, talvez ela mereça – e como de fato concluo – saber o que lhe quis dizer!

Afinal, now is the time of my life, and I’ve never felt this way before!

Eu queria apenas poder olhá-la nos olhos e dizer que nela encontro milhares de razões, de motivos, de sensações e de por quês para amá-la, porque você me faz rir, você cuida de mim, você me dá carão quando eu faço algo errado e não tem receio de bater na minha cabeça com um sorriso maroto!

E quando eu estou passando mal você me faz um sanduíche e não descansa até eu melhorar e você sabe ser carinhosa comigo e também um doce, além de saber ter a força e a garra necessária para eu lhe dizer: você é linda, você tem um sorriso incrível e adoro me olhar nos teus olhos, mas lhe amo por dentro também, por suas idéias e ideais e por teus sonhos também!

Você se fez a minha melhor amiga, você é engraçada e me faz me sentir protegido e seguro nos teus braços, me sentir amado e sim, você é a melhor amiga que já tive, que fez parte dos meus dias, que me faz feliz o tempo todo...

E assim continua essa história, enquanto faço uma compressa em meu joelho esquerdo e meu tornozelo direito... com os versos meus, tão seus que peço nos versos meus, tão seus que esperem que os aceite... dos versos que eu fiz, ainda espero resposta...

7/04/2008

Da delicadeza perdida
do canto, da poesia,
da tristeza vendida
e do capital animal

pelas ruas dessas cidades
pelas idades de suas sombras
e pelas sombras de suas maldades
pelas ruas, todo sussurro há de lhe amedrontar

com seus passos calmos
e seu sorriso sincero,
esquece ele também do inferno
que a vida lhe insistiu em rogar

e com olhares discretos
desperta perguntas, mistérios
que nem ele mesmo,
entre lágrimas e intempérios,
soube como guardar

espera portanto o dia
em que toda a sua alegria
de mãos dadas há de lhe acompanhar

por um pedaço de chão,
olhando para um céu sem solidão
agradeça-lhe ouvindo o barulho do mar

então com os lábios em seu ouvido,
entre sussurros, murmúrios e beijinhos
juras de amor lhe há de trocar

percebe assim que o dia,
entre outra diversa alegria,
pôs o sol à janela banhar

e como num toque de ironia,
os olhos se abrem em profunda euforia
e o sonho se põe a acabar

acaba-se o sonho e a alegria,
resta só então a nostalgia
e o desejo de não mais acordar.

6/30/2008

Até mesmo um peito descrente
pode reconsiderar
em seu coração ausente
a possibilidade de amar.

E então ele começou a sonhar
e se pôs a imaginar
encostado ao seu travesseiro.

Como tudo poderia ser
como poderia se entender
e no outro olhar se esquecer
como se refletisse o seu desejo
em um espelho.

Até mesmo um peito ausente
e seu coração descrente
Podem imaginar

Até mesmo amar, imaginar
e em seu travesseiro sonhar
Poderia um sentimento demente
descansar.

Até mesmo entender
e se esquecer do seu desejo,
pra dentro de si se perder
e dentro do outro em um beijo.

6/25/2008

Existe a vontade de escrever! Talvez não exista simplesmente assunto, talvez sequer exista uma novidade. Mas pode haver a maldade. E a saudade também. E assim é a vontade de escrever, mesmo que não tenha uma direção certa, nunca precisamos realmente saber pra onde vamos! Assim como é na vida... é no papel em branco!
Não precisamos de uma direção, até porque em nós mesmos reside nenhum adereço de começo ou de fim. E gostaríamos de ser a causa ou a conseqüência?
Talvez eu simplesmente gostasse de 'ser', embora soubesse que sua melhor definição se encontraria no 'estar'. E a estadia é curta, apesar de a vontade ser grande! É preciso saber dar adeus. E dar oi também, é claro! Afinal, quantas oportunidades são mal recebidas e assim desperdiçadas?
Posso estar blaset, posso não saber o por quê, posso nem saber o que isso quer dizer, mas tenho o direito também de ter prazer e ser sempre mais do que uma fórmula de-mo-dê.
E da mesma maneira não preciso de assunto para me expressar. Não preciso de expressão alguma no rosto para enganar a desilusão, o tédio ou a solidão.
Não preciso de razão, de equação e de ilusão. Não tenho pavor nem espero louvor. Eu quero o amor e o calor.

6/11/2008

II

Abri o portão. Olhei para baixo, ela correspondeu ao olhar. Eu não consegui mantê-lo por muito tempo. Olhos verdes em meio a toda aquela sujeira, àqueles cabelos emaranhados de podridão! Os meus problemas pareciam tão mundanos então. Tão vulgares. Talvez ela tenha persistido a me encarar, talvez não. Dirigi-lhe então a palavra e perguntei-lhe o que desejava - mas já conhecia a sua resposta.
Um gesto mecânico - inúmeras vezes ensaiado, talvez sequer um deles atuado de forma teatral. Seus pais receberam ensino algum do Governo. O ato clemente de levantar a mão e sussurrar por um pão foi ensinado pela rotina de seus pais. A vida ensinou melhor do que qualquer livro enfatizaria os modos rudes do mundo.
Algumas coisas não se aprendem com páginas amareladas. Mas não acho que se possa negar algo àqueles olhos. Encostei o portão e na cozinha fui procurar o que lhe entregar.
Enquanto colocava alguns pães em uma sacola, pela campainha a via me esperar. Os filhos do vizinho passeavam em suas bicicletas na calçada à frente. A garota dividia sua atenção entre a boneca encostada ao corpo e a observar os garotos.
Enquanto procurava na geladeira por algumas frutas, algo que lhe adoçasse o paladar, os garotos desceram de suas bicicletas e começaram a falar com ela.
De uma das mãos de um dos meninos - talvez o mais baixo, talvez o mais comprido - uma pedra foi atirada em direção à garota dos olhos verdes.
E o seu grito se deu a ouvir. Dirigia-me ao portão novamente, com a impressão de realmente caminhar em um mundo repleto de anjos e insetos.

6/08/2008

I

E foi então que ela tocou a campainha. Pelo visor pude ver uma garota me olhando do outro lado. Roupas sujas e rasgadas, cabelo também sujo e preso. Uma boneca entre os braços segurando junto ao peito. Não devia ter mais do que 10 anos, calculava-se pelo rosto, apesar de que não tivesse mais corpo que um garoto de 7.
Olhei-a rapidamente e, meio frustrado, já me dirigia de volta à sala, quando ela insistiu com a campainha. Talvez o barulho lhe agradasse. Pude ver pelo visor um esboçar de sorriso enquanto aguardava por alguma resposta. Ela não podia saber que eu estava vendo-a também, mas de alguma forma acredito que ela sempre soube que eu estava ali, observando-a também.
A garota tinha olhos penetrantes. Abri o portão.

6/05/2008

a global war-ning

'Aquecimento global mata mais pessoas toda semana que o 11 de Setembro'
O francês Alain Robert (que se auto-intitula 'Homem-aranha' - não é preciso explicações), subiu (sem pára-quedas de reserva ou a ajuda de cordas) hoje o prédio do jornal americano New York Times, uma construção de 52 andares, como forma de protesto no Dia Mundial do Meio-ambiente. Alain é conhecido por subir grandes construções com o único auxílio de pó de magnésio nas mãos, para evitar o suor e aumentar a aderência e já subiu mais de 70 grandes prédios no mundo inteiro.

Em sua camiseta estava escrito 'A solução é simples' e o homem-aranha levava consigo uma faixa escrita 'Aquecimento global mata mais pessoas toda semana que o 11 de Setembro', relembrando o incidente das torres gêmeas na cidade onde o protesto pacífico foi realizado, no mesmo dia em que cinco terroristas que planejaram o atentado foram julgados na prisão americana de Guantánamo.
Não é preciso dizer que Alain foi preso rapidamente após chegar ao topo do prédio, mas a sua mensagem foi ouvida e sua causa foi promovida: O custo para agir agora é muito menor que o preço de agirmos tarde demais, e o tempo está passando rápido. Todos podemos ser heróis e mudarmos o rumo dos acontecimentos.

O tempo é de esperanças que devem ser moldadas em atitudes e em mudanças.
O Homem-aranha hoje fez a sua parte. E o que podemos fazer?

5/23/2008

Ninguém disse que seria tão difícil.
Ele a encontrou apressada, seus olhos fixos no relógio, praguejando os minutos desperdiçados em esperar, enquanto seus pés tamborilavam o chão em um ritmo descontínuo, metropolitano.
Guiou as mãos à frente, em um gesto tímido, mais para garantir confiança à certeza do seu ato falho do que aguardando a reciprocidade. Contentou-se com um aperto de mão. Como nos velhos tempos, lembrou a si mesmo.
Ela evitou as formalidades, tanto por meio das palavras quanto através dos gestos. Só queria que tudo acabasse logo. Usava óculos para esconder seus olhos vermelhos. Eram lágrimas então que insistiam em cair.
Olhou mais uma vez para o relógio, sua impaciência demonstrada nos pequenos gestos. Era o seu horário de almoço, e ela se preparava para argumentar isso no momento em que ele apressou-se em entregar-lhe uma chave. A chave do apartamento.
Ninguém disse que seria fácil, mas nunca disseram também que seria tão difícil. E ela sentiu isso quando a recebeu, mesmo sem querer olhar diretamente em seus olhos, sabia que ele a buscava, que necessitava de respostas que só ela poderia dar - se as tivesse.
Ele já não precisava da chave, passara a manhã empacotando suas lembranças enquanto o caminhão aguardava-o lá fora. Estava então de volta ao começo, após andar tanto tempo em círculos.
Seus pais concordaram em hospedá-lo enquanto procurasse um novo lugar. Abriu mão do apartamento, do carro na garagem e do futuro que sonharam juntos. Mas não poderia nunca se desfazer das memórias. Não queria.
Eram cartas, fotografias e gente que foi embora, tudo reunido em uma caixa que passou indiferente aos empacotadores. Tinha uma foto dela também, mesmo que lhe custasse a aceitar.
E uma lista. Com alguns nomes de garotas. Enquanto casado, ele se perguntava porque ainda a guardava, o fato de tê-la não significava exatamente que precisava dela para lembrar de todos os rostos, abraços e momentos que passou com cada uma delas. Mas significava muito mais do que gostava de explicar.
No dia do seu casamento pensou em jogá-la fora, mas a tinha desde os 11 anos, após seu primeiro beijo no jardim do colégio que estudou a vida inteira. Essa foi a razão de não ter amassado-a - tinha lembranças demais nela.
E agora mesmo, após entregar a chave, viu-a partir como tantas fizeram - e prometeram não fazer. Sem se despedir, ele retira do bolso esse papel já amarelado e anota o nome da mulher que mais uma vez achou ser a garota da sua vida.
Todos os nomes partiram sem se despedir. Partiram um coração, partiram sem razão. Partiram sem necessidade de predicado. O que ficou procurava por respostas, porém nunca chegou a saber quais eram as perguntas que lhe guiava, enquanto as via andar para longe e olhar uma última vez em sua direção, como ela agora o fazia - porém dessa vez diretamente nos olhos.
E todas as vezes ele pensou que fora o fim do mundo, que sentira uma dor que ninguém nunca antes havia sentido e o drama cegava-o a ponto de pensar em desistir pra sempre de si.
Mas sempre se recuperou. Levantou a cabeça e mais de uma vez voltou à luta, confundiu a lágrima com o sangue e com o suor. Mais de uma vez matou o seu orgulho e confundiu-se com a vontade de não ser.
Essa que agora entrou no carro se tornou mais um nome e mais uma esperança que se mostrou falha. Ele escreve seu nome na lista pra demonstrar a si mesmo que ele dará a volta por cima como sempre fez.
Mas ele precisava entregar a chave, precisava abandonar o que construíram juntos para poder recomeçar. E ele precisava murmurar adeus de longe, mesmo sabendo que ela não iria ouvir, quer pela distância quer pela má vontade. Ninguém disse que seria fácil.

5/21/2008

E mais uma vez então
De tudo o que se fez
Não houve mais perdão
Não teve uma segunda vez
Nada além de um simples 'não'.
Se levantou feito um refém
As costas virou para a escuridão
Desabou e se desfez.

Levantou-se,
Porém fez do passado a sua prisão
Se ergueu, compreendeu
Que o que fizesse seria em vão.
De um beijo não se esqueceu
Mesmo que lhe apertasse o coração
E mais uma vez
Era só saudade então.

Talvez ele não viva para entender
Precise morrer para esquecer
E chore sem se render
Talvez mesmo ele se entregue sem perceber
Que mais uma vez
Era só felicidade então

Olhos clementes procuravam
Por respostas, descrentes, e rezavam
Mesmo sendo tão ausentes, insistiam, procuravam

Pediam sem suborno,
Sem encanto, sem encontro
e sem retorno.
E mais uma vez então
Seus dias eram de solidão.

E então chorando sem perceber,
Ele se entrega, mesmo que sem se render,
E vive para esquecer,
Morre sem entender
Que mais uma vez então
fora feliz sem nem saber.

5/16/2008

feliz desilusão.

Desabou
seu mundo, seu chão
seu sorriso, sua razão
com um espasmo, agora é solidão.

o que ficou
foi o silêncio na casa,
uma 3x4 na carteira
uma lembrança, sua vida inteira

foi só mais uma história
de muitas roupas e pouca glória

uma lavadeira e um pescador
poucos peixes e muita dor

nascendo o sol se lançou ao mar
e a pescar ele continuava a lembrar
de quem em terra deixou

mas ninguém o ouviu quando gritou,
ninguém o socorreu, ninguém sequer lembrou

a lavadeira se pôs a chorar
ao ver o sol se pôr e seu barco não retornar
o mar bravio insistia em lhe fazer recordar
da forma como se despediu, do beijo ao
voltar pro mar

com o verão foi-se a sua razão
a trouxa se acumulava no chão
ela sequer pensou em outra opção
se atirou ao mar, feliz desilusão.

5/14/2008

Lição do dia: Não permita que um homem com luvas e um dito 'diploma de medicina' na parede encoste uma pinça perto do seu 'coleguinha-do-andar-de-baixo' sem antes lhe dar uma razão MUITO BOA, diga-se de passagem, para a aproximação.
Hoje tive um prelúdio de como será a minha vida a partir dos 40: Após a crise da meia-idade, o porsche preto na garagem, a casa em Malibu e a visão diária da Pamela Anderson correndo novamente pela praia com aquele maiô vermelho de salva-vidas - mas dessa vez pra resgatar os pedaços de silicone pela areia quente, principalmente pós-aquecimento global!
Que foi? A gente fica tempo demais numa sala de espera, não é?! Dá pra pensar em muita coisa!
Mas beeem.. Não foi bem assim! Ninguém merece visitar urologistas.

5/11/2008

Eu gostaria de poder falar sobre mudanças: perceptíveis, claras e - principalmente - para o melhor. Gostaria de dizer que eu mudei, talvez mesmo da água para o vinho, mas tá mais pra de uma água repleta de cloriformes para um vinho inebriante de uma safra esquecida.
Talvez até mesmo argumentaria que o meu tempo livre serviu para reflexão, auto-conhecimento e todo aquele blablablá budista. Hipocrisia às vezes combina comigo, talvez porque eu saiba que conhecimento não traz consigo apenas satisfação, traz dor também - e leva consigo a nossa inocência.
Pureza de intenções. Maldição de corações. Ínvia atitude. Insana inquietude. Juventude. Insana. Santa. Mantra. Pilantra...
Antes eu ostentava indiferença, descaso frente ao acaso - um caos e um caso. Em comum, talvez apenas a vontade de esquecer.
Hoje ficou a vergonha e um quê de arrependimento, porém, o que isso tem a ver com o vinho, além de um amadurecimento e uma safra impura? Nada.
Por mais que falem - não existe uma segunda oportunidade. Uma segunda chance é benefício da utopia - o que já não é privilégio nem mesmo dos comunistas.
Você sempre vai ser lembrado por aquilo que fez, e ainda mais pelas coisas que deixou de fazer. E não vai existir arrependimento, lágrima ou sangue que possa fechar os pontos do passado.
Tristeza não é pecado.
Desapareço, me esqueço e recomeço. Reminiscência. Reticência. Inocência e transtorno.
Retorno. Eterno retorno.
Eterno.

4/26/2008

fratre caedere quotidianu

O moleque que ganha a vida vendendo jornal no semáforo ganha trocados como nunca antes: o ritmo das notícias é alarmante, surpreendente. Mesmo que não acompanhemos, é sempre um disparo contra o coração. Pobre escravo da mídia!
Mas o sinal abre novamente e você segue apressado, sempre atrasado. Olha para o relógio, enquanto acende um cigarro no outro. Pobre escravo do tempo!
O garoto continua ali, no mesmo sinal, todos os dias. E sob o mesmo sol, os mesmos olhos de pena encenada observam-no através da janela do carro. Ele talvez sequer rasteje pelas razões corretas, mas nunca fui adepto mesmo da teoria de que os meios justificariam quaisquer fins. Talvez você tenha ouvido falar sobre essa teoria. Pobre escravo do controle remoto!
Talvez a mãe dele esteja muito doente e precise de remédios. Talvez ela esteja criando os seus outros irmãos neste instante e seu marido a abandonou. Talvez ela nem mais esteja entre nós nesse exato momento. Ou ele está apenas conseguindo alguns trocados, como um parasita egoísta, se alimentando da essência humana e de sua miséria, para cheirar cola ao final do dia, e assim ter a sua evasão. O que o tornaria menos merecedor de um escape da realidade? Jovem retrato do cárcere!
Você pouco se importa com isso, é a única verdade vista através dos óculos Dolce e Gabana de última coleção que ostenta por trás do vidro embaçado - do eleito carro do ano da última semana - pelos pingos de chuva, enquanto o jovem vendedor tenta se esgueirar para a sombra de um coqueiro. Jovem retrato da desigualdade!
Aquele momento é único. É o tênue instante em que a sua vida se depara e se contrasta com outra realidade. Você volta-se novamente para o volante, continua a mascar o seu trident sabor canela calmamente, enquanto Mariah Carey desafina no seu mp3-player.
O sinal abre novamente, seus filhos o esperam na escola que aquele moleque nunca irá estudar, seu marido lhe espera para jantar naquele restaurante em que o menino jornaleiro nunca vai entrar - não sem ser barrado e retirado ostensivamente.
Se assim o ocorresse, você sentiria pena ou pelo menos a fingiria perante os outros olhos curiosos, ou sinceramente sentiria apenas o prazer oculto de não se ver refletido na face do jovem jornaleiro?

Aaah, pobre retrato de um jovem fratricídio cotidiano.

4/20/2008

Esquecemos a beleza do circo, da poesia e da risada. Nos esquecemos também que não é só a mágoa que contagia, mas que o choro pode ser também de alegria. Na tv, não é só tragédia que vende.
Esquecemos que todas as gotas do oceano são milagres da criação! E o mundo se reinventa a cada segundo, a cada piscar de olhos e respirar do novo. Os pingos de chuva podem cair sobre nossas cabeças, e podemos até pegar um resfriado depois, mas vale a pena correr os riscos para nos sentir mais próximos de nós mesmos!
Esquecemos também da beleza de um sorriso. O sorriso que acalenta a alma e te faz desejar o nascer do sol para vê-lo novamente. Que te faria desejar morrer em troca daquela existência, te faria matar quem roubasse a sua flor mais bela. E talvez te fizesse entender a razão de uma vida.
Todos devemos ter um pouco do sorriso da Mona Lisa e não precisar de razões para sorrir. O sentimento não precisa de significados, nem de pretextos. Mas de vontades e de sonhos.
Devemos voltar a acreditar nas palavras de um sonhador. Acredite em mim, se nada melhor aparecer no caminho. Porque eu não acredito em ninguém. E eu preciso disso também.
As coisas não irão mudar sem o nosso esforço. E no meio do caminho talvez perdemos a distinção entre o suor, a lágrima e o sangue. Amanhã pode até ser um novo dia, mas talvez ele nem chegue, e hoje possa ser o último.
O pano de fundo então irá se desfazer ao sabor do vento, mas ele não escolhe os seus passageiros nem os seus destinos. E então não nos será mais permitido nada além de esquecimento.

4/18/2008

O grande ditador

Eu sinto muito, mas não quero ser imperador. Esse não é o meu negócio. Não quero dirigir nada.Quero ajudar a todo mundo. Judeus. Gentios. Negros.Brancos. Os seres humanos querem ajudar-se mutuamente. Queremos conseguir a felicidade, não a miséria. Não queremos nos odiar. Neste mundo, a Terra é rica e pode alimentar a todos. A vida pode ser bela e livre, porém nós perdemos o rumo. A avareza tem impulsionado a alma humana, erguido barreiras de ódio, tem nos consumido em sofrimento. A velocidade nos tem deixado doentes. A abundância nos tem deixado insatisfeitos. Nossa ciência nos tornou cínicos e desumanos. Pensamos demais e sentimos muito pouco. Mais que máquinas, precisamos de humanidade. Mais que inteligência, precisamos de ternura. Sem essas qualidades,tudo está perdido. O avião e o rádio nos tem aproximado. Esses inventos encontrarão seu sentido dentro da bondade, da fraternidade e da união de todos os homens. Minha voz chega a milhões de pessoas por todo o mundo: homens, mulheres, crianças desesperadas... vítimas de um sistema que tortura e prende pessoas inocentes. Aqueles que me escutam, lhes digo: não se desesperem. A desgraça que passamos é devido à avareza e ao rancor de quem teme o progresso humano. O ódio passará, os ditadores morrerão e o poder que fizeram das pessoas retornará ao povo. Sei que os homens morrem, mas a liberdade não perecerá jamais.
Soldados! Não se entreguem mais a esses brutos, a homens que os desprezam, os exploram, governam suas vidas, que os perfuram, tratam-o como gado, que dizem o que fazer e o que sentir e usam-no como balas de canhão. Não se entreguem mais a estes homens, que têm uma máquina na cabeça e no coração. Não somos máquinas nem granadas! Somos homens, com todo amor do mundo em nossos corações. Não odeie quem é desumano! Soldados, não lutem pela escravidão e sim pela liberdade! No Evangelho segundo São Lucas, está escrito: O Reino de Deus está no homem. Não é de um homem, nem de um grupo, e sim de todos os homens! E vocês, o povo, têm o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vocês têm o poder de tornar a vida livre e bonita e fazer dessa vida uma aventura maravilhosa. E em nome da democracia, utilizemos esse poder e vamos nos unir. Vamos lutar por um mundo novo, um mundo decente, um mundo onde todos terão chance de trabalhar. À juventude,um futuro; À velhice, segurança. Estas bestas tomaram o poder prometendo-nos tudo isso ao representar-lhes. Mas eles mentiram, não cumpriram a promessa, nem jamais cumprirão! Os ditadores se fortalecem fazendo escravos. Agora cumpramos nós mesmos essa promessa! Lutemos por liberar o mundo, por derrubar as barreiras nacionalistas, para terminar com a violência, o ódio e a brutalidade. Lutemos por um mundo de razão, onde a ciência e o progresso nos levem à felicidade. Soldados, em nome da democracia, vamos nos unir!
(discurso do filme O grande ditador, Chaplin)

Comentários farei no post seguinte.. x)

4/08/2008

Muitas respostas são dadas no calor das perguntas, outras tantas exigem concentração e sabedoria para serem elaboradas - pois serão respondidas uma única vez e tudo então se tornará um eterno retorno.
As pessoas temem a morte, mesmo encarando-a como um fato certo, talvez a única certeza enquanto nos efetivamos no espaço e no tempo. Mas enquanto sou, a morte não é, e quando a morte é, eu não sou.
Só que nem sempre aceitamos a lógica de Epicuro assim tão facilmente quanto a proferimos: a Vida é uma experiência única, uma chama entre duas escuridões, uma flor entre dois abismos. É poesia, magia e muitas vezes estamos apáticos ao que não nos convém.
Por essa razão questionamos sempre a eternidade que está por vir, mas não nos lembramos da escuridão que existiu antes de virmos ao mundo. Talvez sejam diferentes sombras, talvez só exista luz saindo desse túnel, mas a vida é a ponte que liga duas existências onde homem algum tem certeza de seus passos, ou mesmo de suas crenças.
Quando cheguei, ganhei não só a existência mas o mundo inteiro! É um presente incrível, sem sombra de dúvida! Mas viemos com choro, enquanto as pessoas ao redor estavam sorrindo. A existência anterior era melhor ou desde então já presenciamos o medo que temos da morte no primeiro suspiro de vida que tivemos ao surgir? É o mesmo medo do desconhecido, eu acredito.
Mas então choramos e crescemos: ganhamos asas, liberdade e conhecimento. Abraçamos o mundo de uma forma impressionante. Quanto mais sabemos, mais nos esquecemos da magia da nossa realidade, do orvalho na chuva, da lagarta que se faz borboleta... Ficamos apáticos ao universo e às estrelas.
Mas uma coisa os nossos ancestrais já faziam e ainda nada mudou: olhamos para o céu estrelado e vemos o universo como o telhado do desconhecido. Qual é a probabilidade de um universo existir? A criação como um todo já é improvável! Mas nós procuramos equações, dar nomes - a razões e a sentimentos, a evasões e ao alienamento. E se existe um Deus, ele não só é um ás em se esconder, como também é o curinga desse imenso baralho!
É interessante então ver que nós crescemos, conhecemos, respiramos desse mundo em uma existência ínfima para o universo - que continua a se expandir, a ganhar fronteiras, e permanece se afastando de tudo - e nós então nos afastaremos de todos. Realmente é impressionante como percebemos que um dia não existirão mais outros dias - não para nós.
E então teremos que nos esquecer de tudo, dar adeus àqueles que amamos, àquilo que nos fez bem, nos fez fortes e nos fez crescer durante a curta existência que usufruímos juntos. A despedida, apesar de certa, é o que trará mais dor - abandonar essa grande aventura no mundo!
A despedida traz medo - o fechar de olhos pra todo o universo, um céu sem estrelas.
E aqueles que conceberam a nossa estada na existência se tornarão a razão da nossa dor: porque dar a vida é também sentenciar a garantia da morte, a certeza de que a chama irá se apagar, mais dia menos dia. Quando abandonar o mundo, alguém estará chorando, outros estarão nascendo e chorando também, e eu, como hei de estar? E para onde hei de ir?
Se me fosse permitida a escolha e eu tivesse o arbítrio de aceitar ou não as regras, muitas vezes pensei em simplesmente negar educadamente também, e continuar no desconhecido. A nossa vida é o conjunto das escolhas que fizemos quanto ao uso do nosso tempo, na nossa existência no espaço.
Só que todo conto de fadas tem as suas regras. Quem sabe o por quê da Cinderela ter que abandonar o baile à meia-noite? Mas assim teve que ser. A regra do nosso conto de fadas é saber que um dia baterá a meia-noite também para a nossa aventura, e é tempo de abandonar o baile e subir na abóbora de volta para... para não sei onde - cá e lá outra vez.
Para a aventura valer a pena, acho que todos devemos deixar um sapato de cristal nesse mundo, algo maior que a Esperança, tão eterno quanto o tempo - mesmo que seja eterno apenas no coração de uma pessoa, que seja um momento, por um único e breve segundo. Tem que existir aquilo que torne a passagem pelo mundo memorável, para poder fechar os olhos em paz e embarcar em uma nova aventura.
Mas é realmente olhando para as estrelas que a gente percebe que outras tantas pessoas encararam o céu e o desconhecido e seguiram em frente. Se eu pudesse escolher, criaria mais uma regra a esse acordo - só me permitir voltar às sombras quando tivesse plantado uma semente em algum coração e então poderia me despedir com a sensação de serviço cumprido.
Olhar para a morte é então observar a vida, à mercê do tempo e dos dias, em função do canto de um galo velho. E então percebo que estou coberto por uma luz que não produz sombras. Posso enfim fechar meus olhos e voar sobre as estrelas, aceitando as regras desse jogo.

4/06/2008

"Imagine que, há muitos bilhões de anos, no momento em que tudo foi criado, você estivesse no umbral desse conto de fadas. E tivesse a opção de viver nesse planeta se quisesse. Não saberia quando ia viver nem quanto tempo passaria aqui, mas, fosse como fosse, seria apenas questão de alguns anos. Só saberia que, se decidisse um dia nascer neste mundo, quando chegasse a hora ou, como se diz, ‘quando o ciclo se completasse’, teria de deixa-lo e a tudo quanto nele existe. Talvez isso o contrariasse bastante, pois muita gente acha a vida neste grande conto de fadas tão maravilhosa que chega a ficar com lágrimas nos olhos só de pensar que isso vai acabar. Tudo aqui pode ser tão bom que dói pensar que um dia não haverá outros dias.
O que você escolheria se um poder superior lhe desse a possibilidade de escolher? A gente pode imaginar, quem sabe, uma fada cósmica nesta grande e enigmática aventura.Você teria optado por uma vida nesta Terra, breve ou longa, dentro de cem mil ou cem milhões de anos? Ou teria se recusado a participar deste jogo por não poder aceitar as regras?" (Jostein Gaarder, A garota das Laranjas)

4/02/2008

Esse avião ainda está longe de alçar vôo – vai demorar alguns meses, mas não deixe que o tempo lhe pregue falsas expectativas: tudo acontecerá num piscar de olhos. E quando o silêncio falar mais que mil palavras na sala de embarque, então você saberá que esta é a última chamada para o primeiro grande vôo da sua vida. Passaporte em mãos?
Não se iluda com a juventude e as falsas promessas da idade: você não tem todo o tempo do mundo. Aliás, este é só o começo do fim das nossas vidas. Portanto, guarde o mp3 na sua mochila de viagem, para tirá-lo quando partir da terra firme. Corra agora atrás dos seus sonhos.
O roteiro de viagem que lhe foi dado beira o desconhecido até o último momento, mas é preciso um voto de confiança no seu guia de viagem. É difícil confiar na aviação, porém acredite: vale mais estar no 747 no ar do que em dois Legacy’s no chão. E você vai querer decolar.
Aproveite enquanto há o que ser feito e embarque de cabeça nessa nova empresa. Depois de prender bem o cinto junto ao corpo, não há mais nada que se possa fazer, exceto depositar as esperanças todas nas mãos desse piloto chamado Destino.
O suor é frio e as mãos tremem, se mistura a ânsia ao anseio, mas isso passa – com o tempo descobrimos que somente a partir das lutas é que desenvolvemos os nossos dons naturais.
Preparado ou não, doa a quem doer, o pior de tudo é saber que o avião vai partir em Novembro – com ou sem você.
Algumas vagas parecem já estar reservadas, mas vivemos um pleno caos aéreo e muitos já esperam há anos por esse vôo, estando mais preparados e confiantes, contudo nem sempre merecedores.
Não deixe a sua passagem escorregar entre os dedos sem nem conseguir te-la nas mãos. Descubra uma razão, decifre os significados, almeje o corpo de César e a alma de Cristo, sonhe.
Muitos homens bons merecem olhar pela janela ao lado e enxergar um céu de nuvens de algodão, mas não conseguem discernir as escolhas certas para alcançar o caminho da vitória numa estrada com tantos obstáculos e tantas bifurcações.
Então eles caem. A lágrima é verdadeira flagrada e respeitada por diversos heróis de guerra. Porém outros tantos fazem pouco caso, e infelizmente não conseguem enxergar que são eles mesmos os kamikazes assassinos de seus próprios futuros – imperadores ébrios em quartos de hospício.
Faz-se mister ressaltar que o avião irá partir com ou sem você. Desde já feche os olhos e se permita sonhar, ousar, permutar e inovar; inspire desse ar puro que é merecidamente rarefeito, e nele se inspire; é a vitória de quem conseguiu subir a pedra mais alta.
Se, enquanto de olhos fechados, alguém lhe perguntar a razão do seu sorriso, enigmática Mona Lisa, responda que está exatamente onde queria estar: voando sobre as estrelas.
Procure ser um Super-Homem – não importa se de Nietzsche ou da Marvel. Talvez a estrada longa e tortuosa surja como uma grande montanha no horizonte, com o pico de neve e nuvens ao seu redor. Aprecie o desafio! A glória em remover as pedras do caminho não consiste no ato de afastá-los da sua frente, mas sim em ter coragem de derramar suor, lágrimas e sangue pelas suas convicções.

3/13/2008

cá e de volta novamente

Voltamos sempre ao mesmo ponto de partida, não importa de onde começamos. Para toda ida existe um retorno sem paixão. Mas sempre podemos voltar a onde estávamos - nunca ao que um dia fomos.

Existem feridas que não se curam - passado o tempo, o merthiolate e a dor. A lembrança de que um dia já houve menos trevas no pôr-do-sol, sombras ao amanhecer, razões em um silêncio e seduções em outros olhos sempre nos vêm a cabeça e nos enlouquece enquanto voltamos para casa.

Aliás, quem sabe onde isso tudo vai parar? Vivemos em um mundo de extremos, sem conseguir recolher os cacos quando o nosso teto de vidro se rompe, quando rasgam as nossas fantasias de carnavais.

Salvar a própria alma antes de reconstruir a dos outros. Buscar um corpo de César e uma alma de Cristo. Ambição.

Ilusão. Quem é o dono das rédeas disso tudo? Faça o favor de avisar aos desatentos de plantão que a vida não pára enquanto limpamos lágrimas frente ao espelho, ela simplesmente atropela aqueles que insistem no erro e não dão chance ao sorriso e a si mesmo.

3/07/2008

E da noite faz-se o dia. Que faz do silêncio, sinfonia. Do caos, a harmonia. Dita seus passos e suas palavras. Suas razões de evasões,sua busca por um perdão ou por um sentido. é preciso ser forte e conter suas palavras.é preciso ter valor e ter um amor. ter uma razão pra batalhar. é preciso ter alguém emquem confiar. é preciso ter alguém por quem morrer. Por quem faça sentido a confusão do dia-a-dia. Rotina difusa de uma manhã sem sol, de uma noite sem estrelas.Então é outra noite, é outra festa. Outro copo na mão. O gosto amargo emudecido.O copo com o gelo já derretido, a música toma conta do seu espírito.E ele fecha os olhos. Se deixa levar.

3/05/2008

Hoje deveria ter sido votado no STF o futuro dos estudos relacionados às células-tronco, o qual foi permitido em 2005 pelo Congresso Nacional e foi alvo de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) elaborada pelo então procurador-geral da República, Cláudio Fonteles.
As pesquisas podiam então ser realizadas quando existir a autorização dos doadores dos embriões e podia ser realizada em células-embrionárias congeladas por mais de 3 anos.
Dois votos apenas foram efetivados (a favor do estudo) e o julgamento foi então suspenso até que os ministros se sintam preparados para dar os seus respectivos votos.

Eu acredito inicialmente que o estudo com células-tronco não feriria o princípio de respeito à vida:
- A morte só é constatada quando ocorre a chamada 'morte cerebral'. Os embriões ainda não possuem cérebro. Sendo a morte verificada apenas quando o órgão parar de funcionar, a vida só pode ser concebida de fato quando e enquanto o cérebro estiver funcionando. Na sua ausência, portanto, não se tem vida.

Existem milhares de embriões congelados que estão neste momento sendo mantidos em laboratório:
- Após certo tempo, eles serão jogados fora. E nem todos apresentam-se como geradores de vida em potencial, sendo assim, muitos deles não podem ser fecundados.
- Uma vez que os embriõesmantidos em laboratórios não podem ser fecundados e deverão ser jogados pelo ralo, eles morrerão sendo ou não utilizados em pesquisas, dessa forma desperdiçando o potencial dos embriões de salvar outras vidas.

A possibilidade de curar doenças como Alzheimer, Parkinson, lesões medulares e diversas doenças genéticas:
- A única esperança de milhares de pessoas, em muitos casos.
- Já existem estudos em nível avançado dentro do Brasil e em todo o mundo com células-tronco de embriões.
- Existem outras correntes buscando a cura dessas doenças também, porém essa é a mais promissora.

Conjeturando o Brasil fechando as portas para esse estudo:
- Haverá dinheiro desperdiçado com pesquisas, cientistas e laboratórios.
- O estudo continuará em outros países, o que trará como conseqüência o atraso brasileiro e a conseguinte importação de tecnologia.

E haverá também a abertura de precedentes para outras discussões importantes, como a legalização do aborto.

E você, o que pensa?

3/03/2008

Para mim tudo sempre foi um jogo. E o 'tudo' é tão vago quanto o 'nada' - palavras que não se desbravam em folhas amarelas de um dicionário antigo, mas que se renovam a cadamomento -, nem beiram o paradoxo.
E como em um jogoo, todos adquirimos o véu do jogador - um rosto impassível, que não demonstra medos e anseios, receoso de entregar seus segredos e desejos.
Assumimos essa máscara quando nos encontramos passíveis ao erro. Mas não usamos a mesma face o tempo inteiro - uma no sábado de carnaval, outra no domingo de quaresma.
O tempo é uma idéia ilusória. É eterno para os amantes - e nos agarramos ao jogo, com unhas e dentes, raposas descrentes, tigres e moinhos de vento.
Mas não é uma brincadeira sem regras a nossa vida. Elas mudam o tempo todo, às vezes não conseguimos acompanhá-las, tantas outras não queremos.
Não estamos sós. Coexistimos. Nossas cartas podem não ser as mesmas, mas ambos jogamos. E na troca de olhares percebemos a maldade de cigana que cada um esconde em seu coração.
Jogamos. Cada um sentado em sua cadeira aguarda pelavez de descer as cartas à mesa. Quais são os curingas do baralho? Qual é a ordem do mundo?
Quem dá as cartas do jogo? A Casa é mestre no suspense e no sigilo.
Estamos rendidos à dança da solidão, como um barco em alto mar cercado pela tempestade.
Não tenho cartas na manga. Pago os meus pecados por ter acreditado que só se vive uma vez. Blefei. Assim abandonei também o meu troféu e a minha princesa na linha de chegada.
Eu perdi a aposta.

2/28/2008

Queen

- Love of my life - A música talvez mais romântica do Queen, Freddie (conhecido pelos seus famosos casos homossexuais) a dedicou para sua amiga Mary Austin, uma das poucas pessoas que o acompanhou no hospital quando ele foi internado com AIDS, num tempo que a doença era desconhecida e repleta de medos e preconceitos (pior do que atualmente) e ficou ao seu lado até a sua morte. Mary, quando Freddie faleceu, herdou uma certa quantia de sua herança e criou uma instituição contra a doença.

- We are the champions - O hino da vitória. Não requer comentários. Milhares de versões existem, mas nenhuma reúne a sinceridade completa daqueles versos, trechos que eram cantados em estádios de futebol lotados, onde Freddie tornou-se realmente imortal.


- Is this the world we created? - Talvez a letra mais politizada das que eu vou comentar. Impressionante a crítica feita, de uma forma sutil e comovente. Se faz sentir. Em algum lugar nasce uma criança que precisa de um pouco de carinho, enquanto um homem rico em seu trono observa a vida passar. O mundo que fizemos à nossa semelhança.

2/26/2008

Se o mar virar sertão, o que é que tem?

"O que é a noite para todos os seres, é dia para o homem que consegue vencer a si mesmo" (Paulo Coelho).
Somos tantas possibilidades quantas conseguirmos listar. Mas enquanto no plano irreal, nada somos de concretos. Abstratos, quase sempre idealizados, e raramente é esta a realidade que nos tornamos.

Mas nunca deixamos de sonhar. Mesmo que saibamos quão absurdos são os sonhos, mesmo que não contemos aos outros nem ousemos ser sinceros frente ao espelho. Pois tentar pôr em palavras algo que os impulsos nervosos consideram impossíveis é mais uma frustração que não estamos dispostos a sofrer. Continuamos a sonhar, e por um momento parece verdade, se a gente esquece de acordar.
Pra rir têm todos os motivos, mas os seus segredos vão contar a quem?

Continuamos também a ter fé. Não é um sentimento imutável, com um rosto definido, um altar certo e nem sequer traz certeza alguma dentro de si. Extrapola o paradoxal. Mas quantos atos não são da mesma natureza na vida? Tantas palavras abandonam seus sentidos usuais classificados em um velho dicionário e se tornam contraditórias no céu da boca, sendo mais uma forma de reinventar o céu e o inferno.

Temos fé na humanidade, em cada um de nós, em Deus. A Fé não deve ser creditada a uma instituição, qualquer que seja - deve ser em Deus, uma mesma Mona Lisa pintada por autores diferentes, ao longo da criação. Seu sorriso ainda guarda mistérios, é enigmático a poetas e cientistas, revela suspiros, merece olhares divinos, enquanto de longe mantém todos os segredos como cartas nas mangas, como um bom jogador que inventa as regras, sem dizer se um dia descerão à mesa.

Se não acreditarmos na humanidade, perdemos a crença em cada um. Estamos cansados de ver diversas atrocidades, mas enquanto reclamarmos apenas, ao fim da tarde, sentado em um banco de uma praça qualquer, vendo a vida passar por si, nada seremos além de espectadores, platéia da nossa própria peça.
E perdendo a crença na humanidade, como macro, perdemos em nós mesmos. Esquecemos que temos a força para suportar qualquer adversidade que nos põe em prova, seja para o bem ou para o mal. E se não houvessem tantas pedras, elas seriam mesmo tão ruim?
Pra quê os trilhos se não passa o trem? Melhor é dar razão a quem perdoa, é dar perdão a quem perdeu.

O amor é pedra no abismo, a meio passo entre o mal e o bem. Os mortos sabem mais que os vivos, sabem o gosto que a morte tem. (Zeca Baleiro).

Descubra uma razão, continue sonhando, é tão difícil aprender. É como as ondas - devoram léguas, mas não têm pressa de chegar.

2/21/2008

Não há pessoa no mundo que seja insubstituível. Por muito tempo pode existir a sensação de negação, de vazio, de ausência, mas lentamente ela dará espaço à raiva, ao luto e à aceitação.Pode variar a ordem, mas alguns comportamentos são admitidos como corretos uma vez que implicitamente eles são aceitos pela sociedade, quando vistos individual e coletivamente.Afinal, a coexistência trata exatamente da subjetividade e da intersubjetividade, onde os valores inatos a humanidade, como a honra, a lealdade, a amizade e a fraternidade são disciplinadores de comportamentos e atitudes, de palavras e de silêncios, de véu e de sorriso.Vejo o passado passar por mim - cartas, fotografias, gente que foi embora - e a casa fica bem melhor assim. Não viemos ao mundo para sofrer, para se lamentar, se questionar e se limitar. Estamos aqui para fazer o hoje. Cadê aquele sentimento de mudar o mundo com as próprias mãos? Somos a geração que será esquecida no futuro. Inconscientes, inconsequentes, indiferentes - para nós e para eles (que ainda estão por vir). Todos temos uma oportunidade única em nossas mãos. De fazer história, de entrar nos anais da humanidade por feitos memoráveis, por mudanças de atitude, de consciência e de realidade. Devemos sempre sonhar, por mais que nos pareça inatingível a nossa causa. Devemos amar, por mais que nos faça chorar. Devemos causar impacto, sermos os melhores que podemos ser - marcar a nossa era. Pra nos tornarmos imortais temos que aprender a morrer.

2/17/2008

Sabe? Eu vejo que um bom mentiroso não tem muita imaginação. Se tivesse, seria ele então conhecido como um bom mentiroso?
Uma vez que as palavras nos transportam a lugares que os pés nunca sonharam, vemos tantos riscos, tantas possibilidades, tantos perigos que controlar a língua seria um total desperdício, não é mesmo?
Não conhecemos o limite, não medimos riscos e vícios - estamos sós nessa highway.
E a falta de criatividade leva a mentiras convincentes! O que é a mentira, além do bem e do mal? Aliás, o que é a verdade senão uma mentira contada mais de cem vezes? Uma mentira contada pra si mesmo é a melhor verdade em alguns momentos - quando não existem possibilidades que a substituam satisfatoriamente.
Não existe verdade absoluta numa mente consciente, pois todo pensamento será arbitrariamente subjetivo e suscetível a desenganos.
Não existe verdade que a gente não suporte, não existe mentira que a gente não carregue uma vida inteira. Existe o céu e o inferno dentro de nós, e cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.

2/08/2008

“Maharishi — what have you done? You made a fool of everyone.”


‘Maharishi – o que você tem feito? Você fez todo mundo de idiota’.

Essa era a primeira linha de uma canção escrita por John Lennon, em 1968, sobre Maharishi Mahesh Yogi, que morreu esta terça-feira (05/02).
Lennon a escreveu após os Beatles deixarem o ashram de Maharishi em Rishikesh, Índia, e anunciarem que não eram mais seus seguidores espirituais.
Mas como os desentendimentos dos Beatles não poderiam interferir em seu trabalho, a letra (que no mínimo era tida como difamatória) foi alterada e as referências a maharishi foram ocultadas.
Os 4 de Liverpool o conheceram em uma leitura realizada em Londres, quando George Harrison e sua esposa Pattie se interessaram bastante pela cultura indiana e pelo hinduísmo.
Na época em que os Beatles conheceram o maharishi, principalmente Lennon e Harrison eram usuários ávidos de LSD, e as técnicas de meditação do hinduísmo prometiam levá-los a transcender, sem o uso de química.
Os Beatles então participaram de um retiro em Bangor, no País de Gales, e foi durante essa época que o seu empresário, Brian Epstein, faleceu de overdose.
Dentro do retiro, os Beatles ouviram rumores sobre maus-tratos sexuais do maharishi com uma das mulheres do ashram, e por essa razão abandonaram o local. John disse então: “Nós estamos partindo. Se você é tão cósmico, saberá o por quê."
O fruto positivo dessa relação foi o abandono do LSD, numa época em que Harrison já estava deixando gradualmente, McCartney e Starr usavam ocasionalmente e Lennon era usuário pesado. Mas não abandonaram totalmente as drogas, já que continuaram a fumar maconha, e um ano depois Lennon começou a usar heroína.

2/07/2008

A pureza de intenções é capaz de todos os crimes, exatamente como as intenções mais ínvias são capazes dos mais nobres atos. (Maquiavel)

2/02/2008

Beeeeatles

The killing of John Lennon

Em janeiro fez 27 anos da morte de John Lennon, assassinado com cinco tiros pelas costas por Mark David Chapman (que continua no presídio de Attica, em Nova York, e teve quatro pedidos de condicional negados).
E no dia 7 de janeiro foi então lançado o filme 'O assassinato de John Lennon' que, apesar de receber duras críticas pelos tablóides ingleses (o jornal 'The Mirror' não concorda com a criação de um filme sobre o planejamento e homicídio de um ex-beatle), foi muito bem recebido pela crítica americana, recebendo prêmio no Festival de Cinema de Tribeca, em Nova York.


Across the universe (literalmente)

Em comemoração aos 40 anos da canção 'Across the universe' (do álbum 'Let it be', gravado apenas em 1969, um ano após a elaboração da música), dos Beatles, a NASA tocará a música no dia 4 de Fevereiro, meia-noite, através de uma rede de antenas da agência chamada Deep Space, com destino a Estrela Polar, na galáxia de Polaris, o que demorará cerca de 431 anos.
Paul McCartney celebra o feito: "Bom trabalho, Nasa. Mande meus cumprimentos aos alienígenas."
Yoko também se pronunciou a respeito: "Vejo isso como o início de uma nova era em que vamos nos comunicar com bilhões de planetas através do universo".
À meia-noite então, no horário de Londres, a música será tocada e todos os fãs do quarteto de Liverpool estão então convidados para ouvi-la juntos!

1/29/2008

Final I

E as ondas devoram léguas sem pressa de chegar. Sem pressa o sol também se demorava a iluminar a areia, a lua cheia se continha no céu, sem querer perder seu brilho na imensidão de um teto infinito e sem nuvens. Para ele, a madrugada foi longa demais, simplesmente.
Para ela? Simplesmente para ela não houve amanhecer. As águas da praia foram então refúgio de suas dores e suas lágrimas, e o sol nascente revelou consigo não só a beleza daquele cenário, mas o sangue que de escarlate tingiu a imensidão azul do mar.

1/28/2008

Parte III

Ao terceiro dia, doces eram as promessas, sutis eram os abraços, e as idas à praia eram acompanhadas sempre de música e de lua a prestigia-los. Eles não falavam de despedidas, mas era de comum conhecimento que o seu caso tinha prazo curto.
Ele gostava da conquista, e ela era um atalho à sua perdição, com respostas rápidas, que lhe roubava as palavras, e lhe deixava um sorriso bobo. Mas as respostas se repetiam, e ele deixava de sonhar com ela: já a tinha nas mãos.
O trago e o estrago já se confundiam entre os seus versos. Ao final do quinto dia, a lua cheia lhes criava o cenário ideal, mas o silêncio envolvia de receios aquele ambiente. Ela sentia a falta dos sussurros de antes. Era o despertar de um sonho.
Uma volta para a realidade? As palavras surgiram então como reflexo difuso de uma tranposição nervosa. Medo,anseio, insegurança tomam os doces lábios que momentos antes só guardavam amores de um coração para outro.
Uma lágrima cai ao chão, apesar de seu esforço para contornar a situação. Ele ainda tenta segura-la (em vão). Ela corre pela areia, trêmula, sem olhar para trás, sem ouvir o vento, sendo o céu e o mar armadilhas para os seus olhos.

1/27/2008

Parte II

Se entregar foi a solução que ele encontrou no momento em que a viu. Ela lhe arrancava sorrisos sinceros, seus abraços colados e calados traziam uma inocência que ele já não acreditava mais. Ele já não acreditava no sentimento, Amor era só mais uma palavra sem tradução.
Ou era apenas o Verão? Ele não sabia das respostas, não procurava sequer conhecer as perguntas, mas não guardava dúvidas quanto ao que queria: simplesmente não iria deixa-la passar em branco.
Como uma brincadeira foram-se os encontros e vieram os desencontros. Cresceu então o jogo da sedução, de palavras e de emoção, de prosa presa, de magia, de encanto e de solidão. A sensação tornara-se ilusão, pois a certeza de te-la na mão transformou-a em mais uma feliz desilusão.

1/26/2008

Parte I

E era só mais uma brincadeira, daquelas tantas de verão que não duram até o carnaval. Era o que os amigos diziam uns aos outros enquanto esperavam pelo casal, cansados e com sono. Mas as promessas que os dois trocavam nas despedidas, entre olhares e mordidas, revelavam futuras carícias.
Ele nunca soube dizer se era a marca de biquíni, o sorriso repleto de perdição, o mar que os prestigiava ou simplesmente o verão a razão de seu encanto. Mas ela não saía de sua cabeça, que o seu afeto o afetou é fato.
Porém, ele era mais um estranho naquela praia. Um viajante que uma semana passaria com seus primos e uma semana durariam os seus beijos e abraços. Ele não tinha tempo, nem mesmo medo e se entregar não seria apenas uma opção.

1/18/2008

O continente esquecido por Deus

O filme comentado dessa vez será 'Diamante de Sangue', que se passa no contexto da guerra civil que existiu em Serra Leoa durante a década de 90, caracterizado pela escravidão, pelos soldados mirins,por um governo corrupto e violento, e por empresas mineradoras sedentas por lucro.
O país, que apresenta o pior IDH - 0,335 - e a maior taxa de mortalidade infantil do mundo (161/mil habitantes), teve a sua independência da Inglaterra em 1961, herdando como idioma oficial o inglês.
Em 91, quando o então presidente Momoh decidiu reformar a Constituição de Serra Leoa, garantindo direitos fundamentais, pluripartidarismo e diversos outros fundamentos democráticos, as mudanças foram acompanhadas de um tremendo abuso de poder e também de corrupção.
Essas atitudes, junto dos problemas administrativos nas minas de diamantes, uma vez que Serra Leoa apresenta ricas jazidas de diamante, de rutilo e depósitos de bauxita, geraram o descontentamento da população com o governo, e assim formou-se o cenário ideal para uma guerra civil, que durou de 1991 até 2002 (oficialmente).
A desestruturação do Estado e a opressão da oposição civil geraram um ambiente propício ao tráfico de drogas, de armas e de munição. A Libéria, país que faz fronteira com Serra Leoa, também vivia uma guerra civil e ajudou, na figura do então presidente Charles Taylor, a formar a Frente Unida Revolucionária (RUF), um grupo civil de reacionários que começou o seu domínio no leste do país, numa área rica em diamantes e, por não receber uma resistência significativa do governo, conseguiu se expandir até chegar à capital.
Houve então declarado o estado de emergência, o fim da liberdade de imprensa e de discurso. A RUF expandiu o seu poder no país, através do recrutamento de meninos-soldados. A ONU foi enviada então para Serra Leoa, que já tinha diversas facções: o governo, a RUF e os diversos exércitos particulares contratados pelos donos de mineradoras, que exerciam seu poder na região. A ONU havia enviado inicialmente 6 mil homens, porém não foram o suficiente, visto que a RUF manteve 500 deles como reféns, então houve um novo envio de tropas de 7 mil homens, totalizando 13 mil.
A guerra civil teve seu fim então em 2002, com um saldo de 50 mil mortos, 500 mil refugiados em países vizinhos e diversos amputados.
Charles Taylor, então presidente da Libéria, foi acusado em 2002 (após cumprir 2 anos de exílio na Nigéria) por embaixadores e membros do Conselho de Segurança da ONU por 11 crimes de guerra cometidos em Serra Leoa, onde ele se beneficiava com o comércio de diamantes e de armas e lucrava pessoalmente com isso.

Hoje, no mundo inteiro, estima-se que mais de 300 mil crianças lutam com armas, seja para os mocinhos ou para os bandidos, e em Serra Leoa 15 mil garotos pegaram em fuzis para defender suas vidas.
Ishmael Beah foi recrutado com 12 anos pela RUF, após os rebeldes terem assassinado a sua família. Ele teve então um treinamento militar primitivo e fez parte da linha de frente da RUF, tendo que matar até seus familiares também. Ele narra, em seu livro: 'A longa jornada: memórias de uma criança soldado', que era estimulado pelos comandantes através de bebidas alcólicas, cocaína e outras bebidas para realizar tais trabalhos.
Ele passou por uma fase de adaptação na ONU e foi adotado por pais americanos, se formou em Ciências Políticas e acredita que com o seu livro será capaz de ver uma luz para essas 300 mil crianças que hoje portam de armas para conseguir sobreviver.

1/17/2008

Make Trade Fair, EMI!!!!


Bateu vontade de voltar a escrever nesse blog, afinal, o meu ócio improdutivo pode tornar-se criativo, não é mesmo? E toda forma de expressão é bem-vinda, como sempre.

Estava ouvindo The Scientist, do Coldplay e resolvi falar então sobre a campanha que o seu cantor, Chris Martin, levanta a bandeira em seus shows, através de discursos, camisetas e pinturas pelo corpo: Make Trade Fair.

Essa campanha busca a igualdade (representada por duas retas horizontais) comercial entre os países em desenvolvimento e os de primeiro mundo, através do Comércio Solidário, de uma nova ligação entre consumidor e produtor, envolvendo conscientização, transparência e sustentabilidade entre ambos, pensando também no meio-ambiente.


Mais de 19 milhões de pessoas pelo mundo já abraçaram a causa. No Brasil, na cidade de Salvador, a campanha teve relevância na 2ª Conferência Mundial do Café, onde pequenos fazendeiros de toda a América Latina, responsáveis por dois terços da produção do café vendido em âmbito internacional, puxaram o microfone para si e reivindicaram contra os grandes produtores e os impostos, e obtiveram grandes conquistas, através do documento que ficou conhecido como 'Carta de Salvador'.

Chris Martin deverá agora aparecer em mais propagandas, não apenas devido à essa causa nobre. A Gravadora EMI, no Reino Unido, permitiu essa semana o patrocínio de outras empresas aos seus artistas, pois a gravadora encontra-se em uma grave crise financeira, e anunciou também um corte de mais de 2 mil funcionários com o objetivo de controlar a sua renda.

Coldplay, Robbie Williams, Rolling Stones e outros vários artistas já demonstraram estar insatisfeitos com essas parcerias, porém deverão ter seus lançamentos associados a empresas, que ainda não foram divulgadas pela EMI.

3/01/2007

Esperança

E então tudo começa do zero - mais uma vez
Se for parar pra pensar, é sempre o mesmo e o mesmo novamente
Para quem vê de fora, de certo, pois você
Está diferente, você é outro agora
Realmente, não sabe dizer se está mais forte, ou apenas mais cansado
Ao menos não se percebe se é bom ou ruim
Nada é tão valoroso quanto essa semente cultivada
Capaz de te mudar e moldar teus sonhos.
A verdade que você não esperava ver refletida em outros olhos.

2/22/2007

A ponta do Iceberg

Mudanças do clima, mudanças de vida
O Aquecimento Global deixou de ser uma grande ficção científica, de enredos grandiosos, apocalípticos, montados em cima de cenários matemáticos catastróficos.
Hoje é uma realidade.
Existem algumas teorias conspiracionistas dizendo que isso tudo é uma grande piada.
Tem gente que gosta de conspiração.
Eu até entendo, é mais bacana dizer que as pirâmides do Egito foram criadas por ET's do que frutos do suor escravo humano. Quanto vale um homem: seu suor, seu sangue ou suas lágrimas?

Nesse caso, é mais fácil culpar os países interessados na assinatura dos EUA do Protocolo de Kioto, diminuindo assim a sua potência econômica, declinando e trazendo à tona novas economias (vide: A fria perspectiva dos cientistas sobre o aquecimento global e Revista Veja, mais uma vítima do efeito estufa) emergentes, do que nos declarar também culpados.
Eu admito, é tentadora.

Ainda mais quando vemos que na década de 70 houve um surto de "esfriamento global", onde afirmaram que estávamos à um passo de uma nova era glacial. "O mundo está se esfriando, podemos sentir". Semelhante.

O planeta está mudando (e não da forma que Tolkien dissera anteriormente). Deixemos de pensar que somos ilhas e vejamos que somos parte integrante de um grande continente, que está morrendo.

E que com ele nós nos vamos também.
Não falo só do aquecimento global. Crianças matando crianças. Quando uma se vai, vai-se um pouco de nós também. Da nossa inocência; da nossa esperança; da nossa fé na humanidade. Não fazer nada é se perder na imensidão do vazio. O pior: deixar-se levar por isso tudo, apático.

Quando vemos um acidente, de carro, por exemplo.
A primeira reação é a de procurar saber o que ocorreu. Quem estava no meio, quem bateu em quem.
A segunda, se alguém se machucou, se está tudo bem. Polícia por perto, ambulância?
A terceira é de agradecer por não ser com você. Ver se não tem algum conhecido, se benzer e seguir em frente.

Curiosidade; "preocupação" (pra ver se foi com algum conhecido, que importa um estranho?) e egoísmo. Humanidade talvez. Concorda?

Aí é que está a pior parte: um prazer inegável de não ser o outro, de não ver-se refletido na face sofrida, nas mãos calejadas, nas costas marcadas de quem sofreu o acidente.

Hoje, o aquecimento global é uma realidade. Por enquanto, talvez não a sinta tão devastadora.
"Secas extremas, inundações, furacões.." Você sabe que não está certo ver como ficção científica algo que apenas não é a sua realidade.

Isso é só a ponta do iceberg. Aprecie a ironia.

2/17/2007

O Outro Lado da Moeda

O Outro lado da Moeda.

Os remorsos seriam obscenos porque implicam tentativa racionalizante, pouco importa se falha e falida, de negar-se como aquele que teria agido assim ou assado.
A frase-emblema do homem bem poderia ser: “se eu pudesse voltar atrás, faria tudo diferente, ah, não faria aquilo que fiz”. O arrependido tenta desobrigar-se de sua responsabilidade não só perante os demais, mas, principalmente, perante a si mesmo, uma vez que procura negar ser aquele que foi (negação, de resto, absurda, porque impossível).
Sustenta-se na possibilidade de poder voltar atrás e desfazer não só o que fez e disse, como ainda todas as conseqüências (quando essa possibilidade, simplesmente, não há).
Elide os fenômenos da sua história particular, tentando esgarçar e desmontar as relações em nome de um valor superior (aquele no qual pensa só-depois) que, todavia, não existe. O que há é irresponsabilização, se as conseqüências do que fizemos nos alcançam de qualquer modo, indiferentes a que tenhamos “melhorado” nesse meio-tempo, indiferentes às nossas manifestações mais ou menos compungidas de arrependimento.
Se o fizemos, se o dissemos, é porque o quisemos, é porque foi de algum modo preciso, necessário; se o fizemos, se o dissemos, é porque assim mesmo nos constituímos o que agora somos, é porque de algum modo valeu a pena; se o fizemos, se o dissemos, logo, devemos desejar fazer e dizer novamente, celebrando a vontade e o desejo como a essência do que somos.

Na verdade, só afirmando o tempo passado se pode afirmar o passar do tempo. Por isso, o eterno retorno compõe-se dentro de uma doutrina ética que, justamente, celebra a vida.

2/10/2007

Até quando?

Já falei sobre a apatia que rege o nosso cotidiano. Uma apatia a tudo o que nos possa parecer. Foge do calor humano. Da primazia inicial que nos era inata.

"João Hélio Fernandes, de 6 anos, morreu na noite de quarta-feira após ser arrastado por 14 ruas, um trajeto de sete quilômetros que cruzou quatro bairros do Rio de Janeiro. O menino foi levado pelos rapazes que roubaram o Corsa de sua mãe que viu tudo. O garoto ficou preso ao cinto de segurança, do lado de fora do veículo. Durante o trajeto, o menino teve a cabeça arrancada."

É este o mundo que nós criamos? Fizemos à nossa semelhança? Até quando vamos nos chocar com notícias como estas, e então vermos tudo de novo?

Vamos discutir isso?
Você realmente se interessa?

Você tem tempo? Então você é culpado.

Vai esperar acontecer perto de ti, com alguém que você ama, pra se chocar e criar um pseudo sentimento de revolta? Culpado!

Quantas lágrimas mais têm de ser derramadas para percebermos que estamos no caminho errado?

Já parou pra pensar no sofrimento da mãe, que assistiu ao filho sendo carregado 7 quilômetros?
No pai? Que o criou com amor, depositou nele as esperanças e desejos que nele não se concretizaram, porque um demônio roubou o seu bem mais precioso? Que viu a vida desmoronar em 15 minutos?

Perto de sua sepultura, pensamentos foram perdidos, enxugam as lágrimas que caem. Momentos recordados nos olhos de uma criança, voando através das estrelas, sem esconder suas cicatrizes.

Você acha que isso não te atinge, que o problema não é seu? Culpado, culpado, culpado!

Quantos inocentes têm de morrer na fúria de um desalmado para vermos que está na hora de dar um basta? Quem ocupa o trono tem culpa, quem oculta o crime também. Apático então? Culpado! Todos temos um pouco de culpa.

São culpados aqueles que acreditam não fazerem a diferença, que suas pequenas atitudes não resultarão em grandes feitos.

Seu comportamento alienado e indiferente me dá nojo. E esse assunto vai ser esquecido. Antes da quaresma, há o carnaval. E ninguém se lembrará disso. O que não é inesperado. O brasileiro dribla a tristeza e se faz feliz com pouco, mas esquece do que realmente deveria ser lembrado.

Um desalmado é capaz de arrastar seu filho por sete quilômetros até lhe arrancar a cabeça.
Quem dera fosse figura de linguagem.

É hora de parar e repensar a vida. Há tempo de recuperarmos nossa fraternidade?

Temos que ser fortes e estabelecermos limites. Temos que recuperar os valores perdidos em uma sociedade corrompida pela ganância humana, uma sociedade pseudo-moralista, onde o ser humano é o ser mais desumano.

Temos que acreditar que podemos mudar.

1/29/2007

Leonardo procura seus modelos

Leonardo procura seus modelos
(Paulo Coelho)

Ao conceber seu famoso afresco "A última Ceia", Leonardo da Vinci deparou-se com uma grande dificuldade: precisava pintar o Bem – na imagem de Jesus – e o Mal – na figura de Judas. Resolveu sair procurando por Milão os modelos que representassem os dois.

Certo dia, enquanto assistia um coral, viu em um dos rapazes a imagem ideal de Cristo. Convidou-o para o seu ateliê, e reproduziu seus traços em estudos e esboços. Antes de o rapaz sair, mostrou-lhe a idéia do afresco, e elogiou-o por representar tão bem a face de Jesus.

Passaram-se três anos. A “Santa Ceia”, que enfeitava uma das igrejas mais conhecidas da cidade, estava quase pronta – mas Da Vinci ainda não havia encontrado o modelo ideal de Judas.

O cardeal, responsável pela igreja, começou a pressionar Da Vinci, exigindo que terminasse logo o seu trabalho. Depois de muitos dias procurando, o pintor encontrou um jovem prematuramente envelhecido, esfarrapado, bêbado, atirado na sarjeta. Com dificuldade, pediu a seus assistentes que o levassem até a igreja, pois já não tinha mais tempo de fazer esboços.

O mendigo foi carregado até lá, sem entender direito o que estava acontecendo: os assistentes o mantinham de pé, enquanto Da Vinci copiava as linhas da impiedade, do pecado, do egoísmo, tão bem delineadas naquela face.

Quando terminou o trabalho, o mendigo – já um pouco curado de sua ressaca – abriu os olhos e notou o afresco na sua frente. E disse, numa mistura de espanto e tristeza:

- Eu já vi este quadro antes!

- Quando? – perguntou um surpreso Da Vinci.

- Há três anos atrás, antes de eu perder tudo que tinha. Numa época em que eu cantava num coro, e o artista me convidou para posar como modelo para a face de Jesus.

1/24/2007

Sonha!

Sonha esse sonho que pode ser sonhado
Sonha um sonho a dois nunca antes imaginado
Sonha um sonho antigo que tudo pode ser realizado
Sonha que no sonho você possa ser amado

Sonha um sonho de ilusão
Faça ruína o coração
Desbanque a perfeição
Com traços de sem razão

Sonha o que nunca foi sonhado
Não precisa ser idealizado
Também não nasça castigado
Entregue ao descaso fadado

Sonha, e isso é o suficiente
Pra que o ausente se faça presente

1/21/2007

Primeiro Amor

Esconda suas cicatrizes, esconda suas dores.
Sinta a vida pulsando no seu corpo.
Você está indo contra o desconhecido.
Não há caminho de volta.

Voe muito rápido, voe muito alto.
Voe. Liberdade tão sonhada.
E talvez, não tão de repente, nada mais importe.

Essa esperança acima da sua compreensão
é o amor que sonhas há tanto tempo?

Os trovões não cessarão. Feche seus olhos.

Te vejo minha bela, a chorar,
Vejo a dor tomar posse de ti,
A angústia se fazer presente.
Escuto as suas lamentações

Queria proteger-te da maldade que se esconde nas pessoas,
Queria cantar a seu ouvido para você dormir em paz.

Ache uma razão.
Continue sonhando
Busque no peito um coração

1/18/2007

"eu sou só um você
que você não quis
e querer é coisa tão pequena
que só não sou você por um triz"

Dizem que existe o Bem e o Mal. Temos até imagens. Cores. Sonhos. Pesadelos. Vultos. Temos tudo que precisamos. Menos a certeza. Talvez o mais importante. Pra alguns, de certo. Lúcifer é apenas um nome. Não é tão difícil de entender. Somos os únicos a culpar.

Como cegos perdidos no silêncio. Procurando um sentido pra vida, como podem? Marque minhas palavras: Deus abandonou este mundo.

A verdade que você não sabe. Que pertence aos outros. Que também não sabem. Procure ela dentro de ti. Não existe verdade absoluta numa mente consciente.

Guerras. Inocência morrendo na fúria da espada. Castelos de areia. Homens fadados ao descanso. Antes de dizerem suas últimas palavras. Triunfo pros mártires da guerra. Que caem pelas causas dos outros. Valeu o sacrifício?

Heróis morrem agora. Ouvindo o choro de suas mães. Buscando o orgulho de seus pais. O paraíso é uma metáfora. A única verdade que podem abraçar.

Fizemos seus guerreiros. Fizemos seus heróis. Fizemos suas mães chorarem. Defesas, diferenças, diferentes lados.

Quando sua boca está cheia de promessas, tudo que eu vejo é uma mão vazia. O mundo insiste em ainda ser o mesmo. Rasteje por um milagre.